quarta-feira, 25 de maio de 2011

da série: coisas que me irritam

Hj tá tendo/teve protesto contra a prefeita da minha cidade. Acho digno demais essas coisas. População reunida em prol do bem comum; todos lutam pelos seus direitos; todos gritam a uma só voz. Quem diria. Sim, QUEM DIRIA? 

Eu nasci no comecinho da decada de 90. E com meus 20 aninhos de idade nas costas posso afirmar com categoria: muita coisa mudou de lá pra cá.

Eu venho de uma geração tímida. De pais acomodados desde os anos 80 com a situação do país, gente que, da ditadura militar, só ouve as histórias. Pra piorar a situação, estamos em Natal, Rio Grande do Norte, uma das cidades menos politizadas do Brasil (pelo menos até pouco tempo). Cresci em meio a um lar confortável de classe média, apesar da minha família ter tido uma origem relativamente humilde sendo que ainda me lembro do nosso primeiro carro: um fusquinha vermelho. Ou seria um chevette vermelho? Que seja, vcs entenderam a ideia.

Nunca se falou muito sobre politica na minha casa. Sei que a maioria da minha familia é de direita. Lembro que ninguem votou em Lula das duas vezes que ele concorreu à presidência com FHC. Ninguem me falava porque estavam votando em um e nao no outro. E se nao falavam, pouco me interessava. No auge dos meus 8 anos eu só queria saber de brincar com as minhas bonecas.

As escolas aqui nao ajudam muito e é claro que eu tenho muito zelo pelo colégio que eu estudei, mas acontece que é algo generalizado. Politica nao é la o assunto mais frequente, mas vamos supor que fosse. Oras, entre as classes média/alta da cidade que frequentavam os colegios particulares de elite vcs realmente acham que o aumento da passagem de ônibus era pauta de conversas? Nao sei se foi assim com todo mundo, mas até a minha sexta serie (e ouso falar: ate antes do ensino medio) muito colega meu batia no peito e dizia, rindo, "nao sei nada sobre política".

Não sabe NADA sobre POLÍTICA? Não era motivo pra rir e bater no peito achando graça, mas era assim. A classe universitaria nao saía mais as ruas; nao batia nas panelas; nao pintava mais a cara nem se enrolava com a bandeira brasileira em praça pública. Nao sei analisar a fundo como isso aconteceu, mas sei que é um fato.

Pois bem, temos um cenário, agora vamos ao outro, o mais recente.

Todo mundo sabe que essa obcessão pelo "alternativo" e pelo "underground" é coisa de dois, três anos atrás. Eu era criticada por gostar de animes e coisas mais nerds, mas hoje posso admitir isso com orgulho porque "ser nerd tá na moda". Ser nerd tá na moda, ser indie tá na moda, ser hipster tá na moda. É a nova onda do "mais correto", das pessoas vegetarianas, dos amantes de café preto (embora eu conheça poucas pessoas que AMEM café de verdade, beijo Paulie). É tempo de desprezar as patricinhas e seus modismos. Tempo de dizer que Natal é uma cidade que não presta; que as pessoas tem a cabeça pequena e elas tem mesmo, mas... E daí?

Quando eu descobri que podia ser "alternativa" dentre o meu grupo de amigos, me senti orgulhosa. Podia finalmente apontar e dizer pra todo mundo "eu avisei". Eu avisei que nerds eram os melhores tipos de cara; avisei que a cintura alta ia voltar à moda; eu avisei que Lily Allen era uma diva da música pop (embora ela tenha sido drasticamente substituída por Regina Spektor em minha vida). EU AVISEI.

E vinha aquele sentimento horrível que todos nós sentimos algum dia: "porque essas pessoas que eu desprezo estão agora fazendo uso de coisas que eu adoro?" O velho ciúme sem sentido de coisas que não sao exclusivamente nossas nem nunca vão ser. De certa forma, temos razão. Quando se banaliza algo que gostamos muito, muito mesmo algo murcha dentro da gente. De repente já nao é mais tao legal assim, oras, se até fulana tá usando pra que que EU vou usar? Só que, peraí, espera um instante. Esse ciúme realmente faz sentido?

Agora a pouco teve o escandalo da arezzo. Todo mundo unido em prol do absurdo que é se vestir com pele de animalzinho (tirada enquanto o bichinho ainda ta respirando) mesmo quando se tem inumeros tecidos sintéticos mais bonitos, baratos e menos bregas do que pele legítima. Sou dessas. Fico indignada quando vejo alguem vestido com pele porque alem de achar feio esteticamente nao considero aceitável, nao qndo a gente tem um monte de alternativas mais agradáveis em todos os sentidos, certo?

"Errado, porque afinal eu uso couro legítimo."

Só que esperaí... Couro legitimo se brincar nem existe mais. Tudo que eu tenho que me disseram ser de couro é sintetico (sim, fui curiosa o suficiente para olhar as etiquetas) e nao que eu tenha procurado couro sintetico de proposito, sao as empresas que estao mais conscientes (ser correto ta na moda, lembram?). Ninguem para pra pensar também que nao se mata um boi pra fazer bolsa. As pessoas matam bois pra comer e sobreviver. Duas coisas bem diferentes de se vestir "na moda". O excedente de pele que seria descartado é utilizado pra confecção de acessorios, aí sim. Correto?

"Nao, nao, nao! Como voce tem coragem de comer carne e ainda protestar contra quem faz casacos de pele?"

Aí minha paciência se esgota. Porque acho um absurdo quando tiram um direito que eu tenho de protestar contra uma coisa e me chamam de hipócrita, de contraditória. "Pq fazem isso se eu estou do lado de vocês?", pergunto eu, "pq nao calar a boquinha e aceitar de bom grado quem compartilha das mesmas ideias que voce?" e foi nesses dias que eu me toquei que a patricinha fresca que agora usa as mesmas roupas que eu deve pensar a mesma coisa.

Uma palavra: tolerância.

Porque fico puta quando dizem que quem votou pra eleger essa prefeita nao deveria estar protestando. COMO NÃO? Como não se é uma coisa que afeta todo mundo? Como não se eu que dei meu voto de confiança pra ela e ela o transformou em passagem de ida e volta pra sao paulo e carro blindado com motorista? Sou cidadã do mesmo jeito e ela continua sendo uma pessima prefeita ate mesmo pra mim (que teria votado nela caso tivesse título de eleitora na época). Galera nao consegue nem ao menos se alegrar por que tem gente pensando da mesma forma. Já parte pro "eu te avisei" ou "ah, eu ja sabia" igualzinho como eu fazia quando era uma retardada. Minha gente, vamos ter um pouco mais de discernimento. O que seria mais aceitavel nesse caso? Continuar apoiando uma pessima prefeita só pq votamos nela ou aderir à insatisfação geral e lutar pelos nossos direitos?

Nao tenha vergonha de dizer que votou em Micarla. Tenha orgulho de dizer que votou nela e agora se arrepende. Porque bater no peito pra dizer que tava certo desde o inicio é muito facil. Dificil é assumir que fomos enganados e ludibriados. Eu achava que sendo vice de um bom ex-prefeito, ela faria uma gestao similar. Me enganei, pronto, desculpa. Já posso pintar meu cartaz e ir pra frente do Midway? Com a sua permissão, é claro, vossa senhoria.

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